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Capa de obra de Renato R.C. (1996) Fotografia: Jean Caic |
Um elo perdido da poesia, fora de catálogo, composto em Três Corações, com memórias que testemunham a passagem da arte da palavra de uma geração a outra, a partir do amoroso encontro de dois poetas tricordianos.
O Grito do Rock TC, orgulhosamente, apresenta dois poetas malditos, deuses-meninos que esticaram os olhos imaginosos além das curvas do Rio Verde, rumo à terceira margem, a margem da linguagem que sonha, a poesia.
Preparem seus corações!
Com vocês, Renato Ribeiro Costa* (1943-1999) por Roberto Iemini de Carvalho!
(Um dos prefácios ao livro “Renato Ribeiro Costa, poemas”: coletânea de poemas escolhidos pelo autor, publicada em 1992)
A primeira lembrança que tenho de Renato Ribeiro Costa, de nossos primeiros contatos, por volta de 1975, é a de ser ele um poeta palpável. Explico: adolescente interessado em literatura, para nosso grupo (pouco mais do que eu e Felipe Campos Rezende), Renato já era um ícone, o primeiro poeta conhecido que podíamos tocar fisicamente e que não se furtava às nossas tímidas aproximações. Muito ao contrário, nos dedicava (e aos nossos incipientes produtos poéticos) toda a sua atenção sem se arvorar em guru. Me apresentou, entre outros, aos abismos essenciais de Lautrémont e Henry Miller, e mais: espantosamente nos confiava originais para ler, considerando com verdadeiro interesse as impressões infantis que podíamos articular sobre eles. Coisa de poeta, para quem a superfície do significado é apenas o indício do desconhecido.
Pois bem, 17 anos depois surge esse livro reunindo poemas escolhidos por Renato Ribeiro Costa, acervo que cobre mais de 20 anos de sua experiência poética, guardando uma unidade surpreendente. Tal fato é significativo. Apesar do reconhecimento explícito que lhe dedicou o “Suplemento Literário de Minas Gerais”, publicando com destaque vários poemas seus (em espaço só concedido aos grandes poetas brasileiros e estrangeiros), Renato Ribeiro Costa pouco publicou além do âmbito municipal. Fiel à natureza de sua expressão, que privilegia “o pouco, o pequeno, mas aqui, nas minhas mãos, para que eu possa apalpá-los”, o poeta nunca sentiu necessidade de expor suas jóias reluzentes muito além das lavras onde as colheu.
Mas, apesar de ligado visceralmente ao seu quintal, pretendendo “ter ficado por aqui mesmo, junto às jabuticabeiras, bem perto do meu chão”, foi cedo atraído pelo Zaratustra e por “outros barqueiros que moravam no outro lado do rio.”
E é nessa outra margem, onde vislumbra o reconhecimento do real, guiado por ventos interiores, rumo a um porto sequer sonhado pela maioria dos homens, lá é que o poeta recria o seu mundo. Esse ousar a travessia é o próprio motor da aventura poética de Renato Ribeiro Costa.
Múltiplo, senhor de várias vozes, aprofunda a vivência do interior (ou melhor, interiores) revelando o universo, a aldeia onde vivemos. Tradição que em poesia, tanto quanto no misticismo, se funda na noção de que “o universo está contido num grão de areia.” Possuidor dessa visão, Renato Ribeiro Costa fala do mundo mesmo sem sair da cidade, matéria-prima constante, e espelho, no qual busca seu rosto. – E o nosso.
Formalmente, Renato Ribeiro Costa é toda aldeia. Serve-se de uma linguagem derivada do modernismo clássico, cortejando um Carlos Drummond. Utiliza as palavras de forma a ingressar no terreno da filosofia. Privilegia o significado, mas pouco explora a palavra enquanto coisa, signo que também se manifesta em ritmo, cor, som, etc. Abordagem que, no entanto, basta aos seus propósitos: pois sem ousar no plano lingüístico, ainda assim incendeia suas visões no fogo da razão e mergulha dentro da tradição em busca do tempo, do seu significado; em busca da infância, esse interminável e obscuro sonho perdido ...
Confrontando o que nos tornamos quando descobrimos – por um segundo que resta – o inevitável mistério de estar vivo, Renato Ribeiro Costa expõe o interior de si e o de Minas, a universal. E assim inventa uma humanidade com a qual possamos sonhar.
E aqui, nas nossas mãos, para poder tocá-la ...
Beto Iemini, 1992
*Álvaro Renato Ribeiro Costa
Mais conhecido como Renato Ribeiro Costa, era filho de José Ribeiro Costa e D. Maria Neder Ribeiro Costa. Nasceu em Três Corações em 18 de abril de 1943. Depois de concluir seus estudos ingressou no Banco do Brasil, trabalhando nesta instituição bancária até sua aposentadoria. Casou-se com Maria Rita Campos Costa e não deixou descendentes. Gostava de escrever por amor a arte, era poeta consagrado, tendo escrito centenas de poemas, os quais foram publicados em todos os periódicos de nossa região e em outras plagas. Recebeu um elogio no “Suplemento Literário do Jornal de Minas Gerais” entre muitos outros jornias. Publicou três livros nos quais se concentram uma boa parte de seus poemas e poesias. Muitas de suas poesias estão ainda inéditas e estão sendo selecionadas pela sua esposa Maria Rita, que mais tarde pretende publicá-las. O poeta deixou um vazio na poesia tricordiana e em todos seus familiares e amigos, quando partiu para junto dos anjos em 23 de julho de 1999.
Fonte da biografia: Projeto Acervos Tricordianos, do Mestrado em Letras da UNINCOR.
+ CONTEÚDO
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GRITO DO ROCK TC 2016
6 bandas de rock, no Queens Pub
Edição: produção Grito do Rock TC
A obra "Renato Ribeiro Costa, poemas", foi cedida gentilmente por Ricardo Marcato.
+ Informações: gritodorocktc2016@gmail.com
Excelente...Lelo. Sou fã dos dois. Tanto do Renato.. Quanto do Beto Iemini. Inclusive.. Faço questão de sempre citar os dois.. Dentre outros tricordianos.. Nos eventos literários que fazemos. A poesia de Renato/Beto.. Tem traços fortes..Incisivos.. Próprios da Poesia Marginal (como você bem disse).. Coisas de Chacal / Ana Cristina Cesar / Cacaso / Leminski e por aí vai. Dia desses.. Comentando um poema do Beto.. Disse-lhe: "Seus poemas são Poemas de Corte". O Grito Rock 2016.. Portanto... Faz merecida homenagem a esses dois grandes poetas das Terras do Rio Verde... E claro.. Estaremos lá para prestigiar e aplaudir..... Afinal de contas.. "Sou da Laia dos dois".... E "Poesia não é pra entender.. Poesia é pra COMER! COMER! COMER!" ........... Parabéns! Pela iniciativa......... INTÉ!
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